Café e Enxaqueca
A ingestão de cafeína no nosso cotidiano se dá não apenas através do consumo do café, como também de outros alimentos como por exemplo: chás, guaraná, refrigerantes, suplementos alimentares, drinks energéticos e como também em associação com medicamentos analgésicos (inclusive tem um bem famoso no Brasil que muita gente toma “aos montes” para dores de cabeça e enxaqueca).
A cafeína é uma substância estimulante que reduz a sensação de fadiga, nos deixa mais despertos, melhora nossa capacidade de concentração e, quando associada a analgésicos em uma dose superior a 100mg, ajuda no controle da dor.
No entanto, a abstinência do café pode provocar o contrário disso tudo. Fadiga acentuada, sonolência, dificuldade de concentração, humor depressivo, irritabilidade, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor e rigidez muscular. O curioso é que esses sintomas se parecem muito a uma crise de enxaqueca. Sintomas característicos que antecedem e acompanham a dor numa crise de enxaqueca. Mesmo pessoas que nunca tiveram e nem têm enxaqueca podem apresentar uma crise bastante parecida a uma enxaqueca.
A enxaqueca e outras dores são fenômenos biológicos relacionados ao funcionamento do sistema nervoso central, periférico e autonômico. A cafeína atua em diversas partes do sistema nervoso, sendo assim, influencia as dores em geral, as dores de cabeça e a enxaqueca, em particular.
Várias pesquisas apontam a ação da cafeína no hipotálamo como sendo provavelmente o fator que leva tanto a abstinência como o consumo excessivo do café a desencadear crises de enxaqueca até mesmo em pacientes que não tem enxaqueca.
Estudos realizados nos últimos 4 anos usando exames de imagem funcional do cérebro mostraram que as crises de enxaqueca começam na mesma área do cérebro onde ocorre provavelmente várias ações da cafeína, o hipotálamo.
Já existe evidência científica de que o café, mesmo tomado em doses baixas e regularmente, pode contribuir para que a enxaqueca fique crônica. Além disso, o café aumenta a síntese de glutamato no hipotálamo posterior. O glutamato está sempre aumentado em pessoas com dores crônicas.
O café, inclusive em baixas dosagens, inibe os efeitos de medicamentos usados frequentemente no tratamento tanto da enxaqueca como de outros tipos de dores como por exemplo: amitriptilina, paracetamol, sumatriptana, tramadol, carbamazepina e oxicarbazepina.
Com frequência meus pacientes com enxaqueca perguntam se devem ou não continuar tomando café. Essa é uma dúvida recorrente.
Agora, tendo feito uma revisão mais extensa e minuciosa de estudos publicados nessa última década, percebi que já existem muitas evidências de que o consumo regular de café, alimentos ou medicamentos com cafeína pode ser prejudicial às pessoas com enxaqueca episódica, enxaqueca crônica e pacientes portadores de dores crônicas.
Aguardem. Em um próximo post retornarei a esse tema.
Referências Bibliográficas:
1. Derry CJ, Derry S, Moore RA: Caffeine as an analgesic adjuvant for acute pain in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2014(12).
2. John J, Kodama T, Siegel JM: Caffeine promotes glutamate and histamine release in the posterior hypothalamus. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2014, 307(6):R704-R710.
3. Alstadhaug KB, Andreou AP: Caffeine and Primary (Migraine) Headaches—Friend or Foe? Frontiers in Neurology 2019, 10(1275).
4. Sawynok J: Caffeine and pain. Pain 2011, 152(4):726-729.
5. Sawynok J: Adenosine receptor targets for pain. Neuroscience 2016, 338:1-18.
6. Schulte LH, Allers A, May A: Hypothalamus as a mediator of chronic migraine: Evidence from high-resolution fMRI. Neurology 2017, 88(21):2011-2016.
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