O que você tem pode não ser enxaqueca. Já pensou nisso?

Irei lhes contar uma história triste de uma das piores dores de cabeça que existe, a cefaleia em salvas. História de sofrimento… Retardo no diagnóstico e falha no tratamento adequado até depois do diagnóstico correto. Além disso, pesquisas apontam que esses pacientes costumam receber informações inadequadas a respeito da doença dos próprios médicos. Vamos lá!

Muitas pessoas que apresentam um tipo de dor de cabeça chamada #cefaleiaemsalvas, lastimavelmente, vivem anos achando que têm enxaqueca ou neuralgia do trigêmeo ou sinusite e até mesmo, alguma doença nos olhos ou nos dentes. Muitos são submetidos a intervenções desnecessárias, inclusive cirurgias, antes de receberem o diagnóstico correto.

Pesquisa recente, mostrou que pacientes com cefaleia em salvas chegam a receber o diagnóstico correto após 2,6 a 9 anos da primeira crise de dor. Outro estudo identificou que antes do ano de 2000, o diagnóstico chegava a tardar 13 anos. Até hoje, cerca de 15% dos pacientes chegam ao diagnóstico sozinhos, buscando informações na internet.
Alguns fatores levam ao retardo do diagnóstico correto de cefaleia em salvas:

1) os pacientes chegam a esperar em torno de 1 ano para buscar ajuda médica após a primeira crise de cefaleia em salvas;

2) a prevalência da cefaleia em salvas é baixa, acomete apenas 0,1 a 0,2% da população. Muitos médicos não conhecem essa dor de cabeça, inclusive médicos neurologistas que não são especializados no diagnóstico e tratamento de pacientes com dores de cabeça (#cefaliatras);

3) a cefaleia em salvas episódica ocorre apenas em um período variável de 7 dias a 12 semanas e depois desaparece durante períodos que variam de 1 a 3 anos;

4) algumas características da cefaleia em salvas costumam confundir médicos não especializados levando ao diagnóstico errôneo de enxaqueca, tais como: dor localizadas em um dos olhos, muito intensa que pode vir acompanhada de sintomas parecidos aos da enxaqueca, como náuseas, vômitos, aversão a luz, aversão a barulho e sensação de cansaço. Em alguns pacientes, a dor na cefaleia em salvas pode inclusive alternar de lado na cabeça levando o médico a pensar também na enxaqueca. ?

Diagnóstico correto e tratamento inadequado

Dados de pesquisa mostram que mesmo após o diagnóstico correto, neurologistas gerais, frequentemente oferecem tratamentos sem base científica aos pacientes com cefaleias em salvas.

Já ouvi o relato de pelo menos dois pacientes cujos médicos neurologistas se recusaram a prescrever oxigênio para as crises porque diziam não acreditar nesse recurso. ?

Diagnóstico correto e informações incorretas

Mesmo após o diagnóstico correto, os pacientes acabam recebendo informações incorretas sobre as causas da cefaleia em salvas. São apontadas relações com desordens psiquiátricas, vasculares, lesões cerebrais entre outras. Muitas destituídas de comprovação científica.

Tendência ao uso de drogas

A falta de diagnóstico correto ou a resposta insatisfatória aos tratamentos da cefaleia em salvas leva muitas vezes esses pacientes a se submeterem a intervenções cirúrgicas e ao consumo desenfreado de medicamentos (automedicação) como também ao consumo de drogas ilícitas. Atualmente, no Brasil, sabemos que está havendo um alto consumo de Cannabis e derivados dessa planta por esses pacientes, apesar de que pesquisas clínicas já realizadas não terem demonstrado eficácia terapêutica desses compostos na grande maioria dos pacientes.

Existe tratamento para cefaleia em salvas. O tratamento adequado depende sempre de um diagnóstico bem feito. Além dos medicamentos, existem atualmente técnicas de neuromodulação com estímulos elétricos (eletroneuromodulação/PENS) que vêm demonstrando nas pesquisas e na prática clínica um importante papel no manejo clínico de pacientes com cefaleia em salvas.

Então, meus queridos, recebeu o diagnóstico de enxaqueca e o tratamento não funcionou, uma das possibilidades é o diagnóstico incorreto.

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Referências:

1. Wei DY, Khalil M, Goadsby PJ: Managing cluster headache. Pract Neurol 2019, 19(6):521-528.
2. Buture A, Ahmed F, Dikomitis L, Boland JW: Systematic literature review on the delays in the diagnosis and misdiagnosis of cluster headache. Neurol Sci 2019, 40(1):25-39.
3. Leroux E, Taifas I, Valade D, Donnet A, Chagnon M, Ducros A: Use of cannabis among 139 cluster headache sufferers. Cephalalgia 2013, 33(3):208-213.
4. May A, Schwedt TJ, Magis D, Pozo-Rosich P, Evers S, Wang SJ: Cluster headache. Nat Rev Dis Primers 2018, 4(18006):6.
5. Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia 2018, 38(1):1-211.

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